O que precisamos entender sobre o autismo?
O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento complexo e com uma etiologia de base bilógica. Este transtorno caracteriza-se pela ocorrência de problemas marcantes no desenvolvimento infantil. Alterações no desenvolvimento, que ocorrem no autismo incluem dificuldades nas habilidades sociais, comunicacionais e comportamentais que acarretam um prejuízo significativo para a vivência familiar, acadêmica e em comunidade. O diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é clínico e deve ser realizado a partir dos critérios estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM).
Por que parece tão comum ouvir falar em autismo hoje?
Dados epidemiológicos de 2018 oferecidos pelo Center for Disease Control and Prevetion (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos, informam que 1 em cada 59 crianças nascidas são diagnosticadas com TEA. No Brasil estima-se que em torno de 2 milhões de pessoas são afetadas pelo autismo. Por conta disso, a busca por tratamento efetivo no país tem crescido exponencialmente. Existe portanto, uma crescente demandapor profissionais capacitados, tanto pela famílias, que buscam tratamento eficaz, como por profissionais que realizam o diagnóstico e identificam a elegibilidade para tratamento especializado.
Quando pode se perceber os primeiros sinais de autismo?
Os sinais precoces do autismo podem ser identificados antes dos 18 meses da vida da criança por profissionais treinados, utilizando protocolos baseados em evidência. Os sintomas podem acarretar um prejuízo significativo para as pessoas ao longo do desenvolvimento se o tratamento não for iniciado o mais cedo possível. Por exemplo, os problemas de comunicação na criança com autismo são persistentes e podem incluir desde a dificuldade para a aquisição da fala até a dificuldade para utilizar a linguagem de modo funcional em situações sociais.
O que é a Terapia ABA?
A Análise do Comportamento Aplicada (do inglês Applied Behavior Analysis – ABA) é uma ciência dos problemas humanos que propõe a utilização de princípios científicos que regem o comportamento humano para a melhoria de dificuldades socialmente relevantes, e é voltada para a implementação de estratégias efetivas para a mudança comportamental que são vantajosas e duradouras para os indivíduos que dela se beneficiam. No Brasil, a aplicação da Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo está sendo conhecida como Terapia ABA. A comunidade de analistas do comportamento, aponta a importânica de não confundir a ciência Análise do Comportamento Aplicada com um conjunto de técnicas ou métodos. A Análise do Comportamento tornou-se mundialmente conhecida após uma abrangente implementação para o tratamento de indivíduos com autismo ao redor do mundo com resultados muito positivos. Desde a década de 1950, a eficácia de protocolos da Análise do Comportamento ficou demonstrada em muitos estudos publicados em revistas científicas. Tanto que na década de 80 a utilização da Terapia ABA para o tratamento do TEA teve sua efetividade reconhecida no âmbito da medicina pediátrica pelo Surgeon General dos Estados Unidos, que é uma agência governamental americana responsável pela avaliação e aprovação de tratamentos médicos efetivos. A Terapia ABA se mostra eficaz no tratamento para ao autismo por meio da melhoria nas habilidades de vida diária, na área acadêmica, na vivência em comunidade, no desenvolvimento socioemocional, no desenvolvimento de comunicação, nas habilidades de autorregulação entre outras importantes habilidades que crianças e jovens precisam desenvolver para participar de ambientes e de situações sociais das mais diversas.
Como é feita a intervenção com ABA?
A intervenção com Terapia ABA geralmente inicia-se por meio de uma avaliação inicial das habilidades da criança, bem como dos comportamentos difíceis por ela apresentada. Após a avaliação inicial, um profissional capacitado desenvolve um plano de intervenção comportamental que inclui uma programação para o ensino individualizado, intensivo e sistemático com o propósito de ensinar novas habilidades ou reduzir problemas de comportamento que funcionam como barreiras para o desenvolvimento infantil. O progresso clínico da criança é continuamente avaliado uma vez que a intervenção é monitorada por meio da coleta de dados que serve para a tomada de decisão sobre quais devem ser as prioridades para o tratamento da criança no futuro. Para a intervenção efetiva com Terapia ABA nós temos então uma sequência que consiste na avaliação, na programação com estratégias baseadas em evidência, na implementação da programação, seguida de reavaliação e estabelecimento de novas metas terapêuticas.
Como saber se um programa ABA tem qualidade?
Com a popularização da Terapia ABA no Brasil é importante se falar sobre a importância de informar bem os consumidores, sejam eles pais, familiares, educadores ou até mesmo profissionais da área médica ou da área de saúde, para que estes possam identificar a Terapia ABA de qualidade para encaminhar crianças ou indivíduos que necessitam de intervenção. Algumas características são importantes para que se determine que um programa de Terapia ABA tenha a qualidade necessária: o programa deve ofertar serviços com base nos princípios cientificamente comprovados; oferecer uma atenção individualizada as necessidades do cliente, familiares e demais pessoas que lidam diretamente com a criança; os objetivos terapêuticos precisam ser identificados por meio da avaliação dos déficits e das habilidades básicas da criança; bem como os problemas de comportamento devem ser investigados por meio da análise funcional dos comportamentos.
Quem pode oferecer Terapia ABA no Brasil?
No Brasil, a capacitação para a intervenção em Terapia ABA está em pleno crescimento. A ACBr informa quais são os critérios que devem guiar a escolha de um profissional competente para supervisionar programas de Terapia ABA. Mas, nos países norte-americanos as diretrizes para a formação profissional e a prática responsável da intervenção com Terapia ABA já está muito melhor estabelecida por meio da certificação internacional pelo BACB. Por aqui, cada vez mais profissionais tem se interessado em obter a qualificação necessária para atuar em Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo. Esses profissionais investem em sua própria formação profissional que requer formação acadêmica no nível de mestrado e doutorado e uma ampla experiência supervisionada.
Dra. Mylena Pinto Lima é diretora clínica da Casulo Comportamento e Saúde. Psicóloga, BCBA-D (Certificação Internacional em Análise do Comportamento Aplicada (Terapia ABA) Behavior Analyst Certification Boardem), Doutora em psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Atuou por 10 anos no ensino superior em universidades brasileiras como professora e pesquisadora, e por 10 anos no Canadá como Analista do Comportamento nas áreas de desenvolvimento e saúde mental de crianças e adolescentes.
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