Um enfermeiro da cidade de Timon, no Maranhão, conseguiu uma importante vitória jurídica para o seu filho e para todos os pais e mães de crianças autistas. A 8ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho acolheu o recurso do pai para reduzir pela metade sua jornada semanal para acompanhar o filho em atividades terapêuticas. A decisão foi tomada por unanimidade e foi publicada no portal Conjur, nesta sexta-feira (22). 

Na reclamação trabalhista, o enfermeiro justificou a necessidade da redução por ter de realizar treino parental intensivo e acompanhar a criança nas atividades de terapia, fisioterapia e fonoaudiologia, além das consultas médicas. Ele argumentou também que tem de lidar com problemas psiquiátricos da sua mulher e dificuldades financeiras, “que provocam enorme sobrecarga e cansaço, sem o descanso reparatório”.

Sem provas

Em um primeiro momento, o TRT negou o pedido do enfermeiro, com a justificativa de que o enfermeiro teria de apresentar “prova cabal” da necessidade de redução da jornada. A corte regional ressaltou que o enfermeiro trabalhava em outro hospital pela manhã, já com jornada reduzida, e que, na parte da tarde, a criança frequentava o ensino regular infantil.

Ao recorrer ao TST, o enfermeiro explicou que seu pedido não tem como fundamento apenas poder acompanhar o filho nas consultas e terapias, mas a real necessidade da presença do pai no dia a dia, “principalmente orientando-o e conduzindo-o nas atividades e vivências diárias, uma vez que o acompanhamento familiar é fundamental para o desenvolvimento de um autista”.

Com provas

A relatora do recurso de revista, ministra Delaíde Miranda Arantes, entendeu haver provas suficientes da necessidade de atenção especial à criança. 

Segundo ela, o caso abrange a tutela de bens jurídicos destacados na ordem constitucional de 1988, “notadamente, o direito da pessoa com deficiência”.

Em seu voto, a ministra lembrou a Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência e sustentou que a jurisprudência do TST tem admitido a redução de jornada de empregada ou empregado público com dependente com deficiência, sem alteração remuneratória e sem compensação de horário, mediante a aplicação analógica do artigo 98, parágrafos 2º e 3º, do RJU.

Todavia, ela ponderou que a pretensão depende da especificidade do caso, “não se tratando de uma decisão generalizável”. Mesmo assim, não deixa de ser uma vitória a todos pais, mães e tutores de crianças autistas do país.

Fonte: Conjur

Um novo estudo publicado no Journal of Child Psychology and Psychiatry descobriu que a regressão da linguagem na primeira infância não necessariamente prenuncia maiores dificuldades de comunicação no futuro.

As habilidades de linguagem podem variar amplamente em crianças autistas, com muitas crianças desenvolvendo linguagem fluente, enquanto outras experimentam atrasos na fala ou nunca desenvolvendo-a plenamente. Neste estudo, os pesquisadores examinaram a relação entre a regressão da linguagem, ou a perda de habilidades de linguagem adquiridas anteriormente na primeira infância, e as habilidades de comunicação na adolescência.

Os pesquisadores analisaram dados de 421 crianças autistas no Canadá cujas famílias participaram do estudo “Pathways in ASD”, apoiado em parte pelo Autism Speaks. Os pais ofereceram feedback sobre o desenvolvimento, a função cognitiva e socioemocional de seus filhos em vários estágios, desde a idade do diagnóstico (2 a 5 anos) até os 10 ou 11 anos.

Das 408 crianças incluídas na análise, 22% apresentaram regressão de linguagem, com idade mediana de perda de linguagem aos 18 meses. Em geral, as crianças pequenas com regressão de linguagem tinham habilidades de comunicação expressiva mais baixas, ou capacidade de usar a linguagem; menor capacidade de comunicação receptiva ou capacidade de entender a linguagem; e habilidades motoras finas inferiores e funcionamento cognitivo.

No entanto, as crianças com regressão de linguagem geralmente aprenderam a andar um mês antes e disseram sua primeira palavra um ano antes do que aquelas sem regressão. Ambos os grupos finalmente atingiram a fala ao mesmo tempo, com o grupo regressivo apresentando um atraso de cerca de três meses nas habilidades de comunicação expressiva e receptiva.

A regressão de linguagem também teve pouco impacto na habilidade geral de linguagem na adolescência. Aos 11 anos, cerca de 6% das crianças com e sem regressão de linguagem desenvolveram habilidades de comunicação expressiva acima da média. Da mesma forma, 19% das crianças que experimentaram regressão de linguagem e 13% das que não desenvolveram habilidades de comunicação receptiva acima da média.

Para entender os fatores que afetam a regressão da linguagem e os resultados da comunicação, os pesquisadores examinaram sua relação com preditores sociodemográficos (sexo biológico, escolaridade materna e renda familiar) e preditores de desenvolvimento (habilidades motoras finas e habilidades cognitivas). Os resultados mostraram que os fatores sociodemográficos não tiveram um efeito forte na regressão ou no desenvolvimento da linguagem.

No entanto, havia uma forte conexão entre as habilidades cognitivas e motoras na primeira infância e os níveis de comunicação entre todas as crianças do estudo. A análise dos dados mostrou que, ao contabilizar as habilidades motoras iniciais, o déficit de linguagem associado à regressão da linguagem desapareceu.

É possível que esse resultado seja causado por erro de medição e que as habilidades motoras finas relatadas pelos pais reflitam a capacidade de linguagem subjacente. Por exemplo, os pais podem relatar que seus filhos têm habilidades motoras baixas devido à sua incapacidade de seguir instruções ou usar gestos comunicativos, que são muito afetados pelas habilidades de linguagem receptiva.

No entanto, a conexão entre a regressão da linguagem, habilidades motoras e cognição também pode indicar que a regressão da linguagem não é específica para os resultados da linguagem, mas é um sintoma de mudanças biológicas mais amplas que afetam o desenvolvimento cerebral em bebês com autismo.

Fonte: Autism Speaks

As avaliações continuadas são formas de levantar dados mensuráveis sobre a evolução dos indivíduos com autismo. Por que? Bem, todos sabemos que o que faz a Terapia ABA ser a mais indicada para o acompanhamento de crianças com autismo é o fato de ser um método baseado em evidências científicas. E como todo método científico, é fundamental ter dados para tomar as melhores decisões. Afinal, não existe ciência sem dados mensuráveis. 

As avaliações continuadas são formas de medir o que está e o que não está dando certo no acompanhamento desse indivíduo.

Como acontece?

Na Casulo Comportamento e Saúde todas as crianças passam por uma observação inicial e, depois, periódicas. A primeira é feita logo quando a criança inicia seu acompanhamento. Já as segundas são realizadas de tempos em tempos.

Após um ano na clínica, as crianças já passam por outros dois tipos de avaliações continuadas que são baseadas sempre suas respectivas faixas etárias. 

A primeira é mais voltada para a parte cognitiva, realizada com instrumentos e métricas padronizadas de desenvolvimento infantil. Nesse caso, a ideia é compará-los com uma população de crianças que não possuem autismo para que possamos ver quais as potencialidades e dificuldades das crianças. 

Em outras palavras, quais habilidades são necessárias para facilitar a vida dessa criança na comunidade? Como está o desenvolvimento comportamental, intelectual e social dessa criança, comparada às outras, que não possuem autismo? Saber isso nos ajudará a entender quais treinamentos de habilidades serão necessários para continuar a evolução dessa criança.

A segunda é baseada em critérios específicos para cada criança. Nesse caso, não queremos compará-la com ninguém senão com ela mesma. Dessa forma, é possível entender como ela está assimilando os treinamentos feitos e se houve a ampliação de habilidades funcionando ou não. 

Ou seja, as avaliações continuadas são fundamentais para entender as necessidades das crianças e mensurar a evolução delas. Isso faz parte do método científico do qual Terapia ABA faz parte.

Uma das características mais comuns do autismo é a existência de interesses especiais, ou interesses estreitos e intensos. A maioria das pessoas autistas tem um ou mais interesses especiais que podem variar de tema. Estudos mostraram que esses interesses podem ser importantes em ambientes educacionais e de trabalho, mas há poucas pesquisas sobre como eles se apresentam na comunidade autista.

Neste estudo publicado na Revista Autism, os pesquisadores se propuseram a entender melhor os interesses restritos em um grupo de 237 jovens autistas de 2 a 18 anos com deficiência intelectual. Os dados foram coletados com base em questionários preenchido pelos pais sobre os sinais de autismo e interesses especiais de seus filhos.

Os resultados descobriram que 75% dos jovens autistas tinham pelo menos um interesse especial e 50% deles tinham dois ou mais interesses especiais. Os interesses mais comuns incluíam:

  • Interesses sensoriais (44%) – objetos brilhantes ou de cores vivas, objetos giratórios, objetos macios ou texturizados, etc.
  • Veículos/transporte (19%) – carros e caminhões, trens, aviões e foguetes, etc.
  • Personagens de filmes, livros ou desenhos animados (15%) – Thomas e Seus Amigos, personagens do Universo Marvel, Dora, a Aventureira, etc.
  • TV/DVDs/filmes (13%) – The Wiggles, Dr. Who, Star Wars, etc.
  • Interesses individuais (12%) – interesses relacionados à limpeza, pedras, chaves, banheiros, etc.

Embora menos frequentes, muitas crianças e adolescentes com autismo também manifestaram interesse por computadores/tablets/videogames (10%), brinquedos construtivos como quebra-cabeças ou legos (9%), objetos mecânicos (9%), animais e plantas (7%) e objetos específicos (6%).

Os pesquisadores descobriram que interesses restritos eram mais comuns em pessoas do sexo masculino, com deficiência intelectual e mais desafios sociais e de comunicação. Embora a relação entre interesses especiais e comprometimento social/comunicação não seja bem compreendida, pesquisas anteriores sugerem que crianças pequenas com autismo podem experimentar maiores recompensas de estímulos não sociais do que estímulos sociais, fazendo com que se voltem para interesses especiais em vez de contato social.

Os resultados também mostram que, embora a deficiência intelectual e a idade de uma pessoa não estivessem relacionadas ao número ou tipo de interesses para os quais foram atraídas, havia uma relação significativa entre sexo biológico e tipo de interesse. Em particular, as mulheres eram mais propensas a ter interesses criativos como desenhar, pintar ou atuar, enquanto os homens eram mais propensos a ter interesse em personagens, veículos/transportes, computadores/videogames, objetos mecânicos e brinquedos construtivos.

Embora esses resultados ampliem o conhecimento sobre interesses restritos no autismo, o estudo apresenta algumas limitações. Os pais podem ter sido mais propensos a relatar interesses especiais que eram facilmente observáveis ​​ou desafiadores, e menos propensos a relatar interesses que são mais típicos ou adaptativos. Pesquisas futuras devem buscar entrevistar diretamente de pessoas autistas para obter uma visão completa de seus interesses.

Fonte: Autism Speaks

A supervisão é parte integrante e fundamental da formação do analista do comportamento. Isso porque, para desenvolvermos as competências necessárias à Análise do Comportamento Aplicada, nós precisamos ter um sólido conhecimento acerca dos princípios da tecnologia comportamental, conhecimentos acerca dos princípios básicos da ciência análise do comportamento.

Para além disso tudo, também é fundamental que esse profissional tenha a oportunidade de atuar em contexto em que ele pode ser orientado e guiado por um analista do comportamento mais experiente.

Isso é importante porque são nesses contextos que todas as questões relativas ao trabalho do analista do comportamento emergem e podem ser oportunidades de aprendizagem. Desse modo, a pessoa que está sob supervisão de um analista de comportamento experiente pode, de modo mais seguro, desenvolver as competências necessárias para atuar de modo independente no futuro.

É muito importante que a gente compreenda que enquanto o analista do comportamento está se desenvolvendo, aquelas pessoas que recebem os serviços prestados não podem correr o risco de receber serviços que não sejam efetivos e éticos. Por isso, é papel do supervisor garantir que o analista de comportamento em formação atue apenas no seu escopo de competência.

A medida que ele vai ficando mais experiente e comprove, a partir de suas ações, que ele ampliou suas habilidades, o analista de comportamento supervisor vai então atribuir tarefas de maior responsabilidade para esse indivíduo. Com o tempo, o analista do comportamento que completa sua formação básica (formação acadêmica, período de experiência supervisionada e a certificações como o do BCBA), pode até mesmo se tornar um mentor, criando um importante ciclo de aprendizagem.

Uma rede em que professores que se tornam supervisores, que depois se tornam mentores e assim o analista de comportamento seguinte passa a fazer parte de uma comunidade que coloque a frente o bem-estar das pessoas que precisam da análise do comportamento aplicada.

Lidar com comportamentos desafiadores não é simples – pelo contrário, pode ser bem estressante. Mas há formas que você pode fazer para lidar com esses comportamentos de uma maneira segura, objetiva e com menos estresse para todos.

1- Comunique as expectativas de modo claro e objetivo

Muitas vezes tentamos mudar o modo como alguém se comporta por meio da comunicação verbal. Isto é parcialmente verdade, pois apenas uma comunicação assertiva e efetiva faz a diferença na hora de prevenir ou manejar um comportamento desafiador. Por exemplo, em vez de dizer “João, pare de andar de um lado para o outro perturbando todos os outros”, tente dizer: “João, parece que algo o está incomodando, Vamos caminhar juntos e podemos conversar sobre isso. Que acha? Assim, podemos oferecer tempo para alguém pensar sobre as alternativas ao invés de agir de modo impulsivo.

2- Reavalie as Regras e flexibilize quando necessário.

É importante criar regras que forneçam segurança a todos. Mas será que não é possível flexibilizá-las de acordo com as necessidades? Algumas regras podem parecer convenientes para nós, mas quando deixam de ser funcionais geram estresse e podem contribuir para a ocorrência de comportamentos difíceis. Então, Pergunte-se “Esta regar é util?”, “A quem essa regra beneficia?”. Será que é possível chegar a um meio termo é garantir uma resolução vantajosa para aquele para quem oferecemos suporte?

3- Escolha suas batalhas

Sabemos que em algumas circustância as regras não são negociáveis. Ter clareza sobre quais são as regras de segurança e quais podem ser flexibilizadas é importante para podermos chegar a um ponto em comum. E no caso das não negociáveis, quais opções podemos oferecer? Um exemplo,talvez seja mais vantajoso deixar a criança escolher que horas o banho vai acontecer desde que ocorra antes de dormir.

4- Estabeleça limites claros

A ideia para uma parentalidade efetiva não é controlar o outro, mas estabelecer um ambiente seguro para o desenvolvimento. Estabelecer limites claros tem a ver com tais valores. Mas a definição de limite não é sempre intuitiva, mas uma habilidade que precisamos desenvolver. “Dizer “você não pode”, “faça isso” são frases que podem produzir reações emocionais. Então, que tal mudar para uma organização de prioridades. “Primeiro o dever de casa. Depois uma tarde de brincadeiras”

5- Pratique como se comunicar

Comportamentos desafiadores podem disparar o pior em nós. Lembre-se enato de sempre ter um plano. É sempre bom pensar nas palavras a serem usadas para que elas tenham o efeito apropriado: rever regras, consequências mas acolher e mostrar empatia e compaixão. Pratique com alguem em um momento em que você está calmo e racional. Isso lhe preparará melhor para o momento mais difícil e o ajudará a prevenir conflitos em um momento que as emoções estão à flor da pele.

Embora a ciência tenha avançado bastante sobre o tema, algumas questões envolvendo o
Transtorno do Espectro Autista (TEA) ainda continuam sob debate – e também em constante
evolução. Nos últimos meses, pesquisadores do programa de ciências psicológicas na UT Dallas
trabalham para dissipar alguns mitos, estudando questões como a etnia e o gênero afetam o modo como o autismo é diagnosticado. Por isso, separamos três mitos sobre o autismo que precisamos derrubar.

O autismo afeta apenas meninos
Essa é uma questão que já abordamos em textos anteriores. De acordo com o Center for
Disease Control (Centro de Controle de Doenças, em português, órgão dos EUA responsável por centralizar pesquisas na área de saúde), os meninos têm 4,3 vezes mais probabilidade do que as meninas de serem diagnosticados com autismo.

As meninas são diagnosticadas mais tarde, de acordo com o Dr. Kevin Pelphrey, psicólogo
infantil que estuda o autismo em meninas. Sua pesquisa descobriu que o autismo pode se
manifestar em sistemas cerebrais diferentes em meninas e em meninos. Garotas autistas,
disse ele, tendem a ter disfunções nas partes do cérebro que lidam com as habilidades
motoras, funções executivas e regulação emocional.

“Nos meninos, a disfunção se dá principalmente nos sistemas cerebrais envolvidos na comunicação social e no desenvolvimento social”, disse Pelphrey.

O que também é preciso pontuar é que não há muitas pesquisas sobre garotas autistas e a falta de pesquisas significa que as meninas são diagnosticadas erroneamente, podendo perder a oportunidade da intervenção precoce.

O autismo é menos prevalente em pessoas negras
Novamente, a questão não é de prevalência, mas de falta de estudos apropriados. Pessoas negras (ou não brancas) também são diagnosticadas mais tarde e com menos frequência. De acordo com o CDC, crianças brancas têm cerca de 30% mais chances de serem diagnosticadas com Transtorno do Espectro do Autismo do que crianças negras e cerca de 50% mais chances de serem diagnosticadas do que crianças latinas. Mas isso tem mais a ver com o acesso a esses diagnósticos que a uma questão de raça.

Um estudo de 2014 descobriu que não há diferença racial ou étnica em quando os pais de
crianças autistas notam sintomas de autismo em seus filhos, mas as crianças brancas são ainda
mais propensas a serem diagnosticadas.

A realidade é que a pesquisa sobre autismo geralmente se concentra nas necessidades dos meninos brancos. Isso pode fazer com que crianças negras autistas não sejam diagnosticadas, assim como as meninas.

Tenha em mente que a pesquisa está sendo realizada nos Estados Unidos, cujas questões
raciais possuem um contexto diferente que aqui no Brasil. De toda forma, os estudos
realizados nos EUA influenciam direta e indiretamente a produção de conhecimento no mundo
inteiro, incluindo o nosso país.

O autismo afeta a todos de forma igual
O autismo é um espectro – a experiência de cada pessoa autista é única. E isso significa que as pessoas autistas podem ter demandas diferentes. Em 2013, a American Psychiatric Association removeu a Síndrome de Asperger do manual de diagnóstico e mudou o diagnóstico para Transtorno do Espectro do Autismo.

Entretanto o termo caiu em desuso, a partir que a comunidade do autismo passou a compreender que Asperger era um rótulo que se referia a uma pessoa autista que era considerada sem grandes barreiras para funcionar em sociedade. Isso aumentou ainda mais o leque para quem possui o diagnóstico de autismo. O TEA, portanto, passou a abranger um público mais diverso e com realidades completamente opostas e com necessidade muito específicas.

Isso reforça a necessidade de se fazer ações individualizadas, voltadas para as características de cada criança para que ela possa se desenvolver plenamente, de acordo com suas demandas.

Fonte: Texas Standard

Já que o retorno às aulas presenciais é iminente com a vacinação andando, nós temos que pensar como estão as crianças que requerem atenção especial nas escolas. O Brasil fez um avanço na última década com relação à legislação, como a lei do TDAH e do Transtorno de Aprendizagem.

A legislação na área do autismo (Lei nº 2764 de 2012) é clara ao prever que a criança com diagnóstico de TEA requer atenção 1 para 1 com o monitor ou assistente dentro da sala de aula, entretanto ainda não é suficientemente clara com relação ao suporte que é necessário em termos de programação ou de plano de educação individualizado.

Quem é responsável por isso? Segundo a legislação brasileira, seria a escola. No entanto, a realidade é que muitos administradores, professores e pedagogos não possuem a capacitação necessária para fazer esse acompanhamento.

E é aqui entra o programa de consultoria escolar!

Em geral, a Consultoria Escolar Comportamental é a provisão de serviços psicológicos por meio da formação de parceria com as partes interessadas. Como a escola, outros terapeutas e a família da criança.

A ênfase é dada geralmente na busca de soluções para inclusão escolar, no qual o analista do comportamento irá disseminar as práticas baseadas em evidências para uma equipe educacional ou multidisciplinar.

Há dois tipos de planos que podem ser estabelecidos dentro do programa de consultoria escolar. O Plano de Ensino Individualizado (PEI) e o Plano de Intervenção Comportamental (PIC). 

O primeiro é é um processo de organização do currículo acadêmico referente ao ano letivo que a criança está cursando, objetivando equilibrar as demandas pedagógicas da escola com as habilidades e competências que a criança possui.

O PEI é elaborado pelo professor a partir da avaliação do aluno com necessidade especial específica. No entanto, poucos professores possuem competência para estabelecer esse plano de educação especial que atenda às necessidades da pessoa autista. A consultoria existe, portanto, para auxiliar a elaboração desse plano a partir de práticas baseadas em evidências e pensadas pelo analista do comportamento.  

Ou seja, o PEI é um plano para ajudar a pessoa autista a desenvolver-se no ambiente escolar levando em consideração as suas respectivas habilidades. Como criar estratégias para que um aluno autista compreenda regras gramaticais de português, ou a tabuada e assim em diante.

Se o PEI é voltado para a elaboração do ensino que atenda as necessidades da pessoa com necessidades especiais, o Plano de Intervenção Comportamental (PIC), como o próprio nome sugere, é mais voltado para uma questão ainda mais individual. Serve para elaborar intervenções a comportamentos considerados socialmente inapropriados.

No PIC, o analista do comportamento irá propor etapas de resolução de problemas que podem ser identificados pela equipe escolar. O objetivo é diminuir a frequência desses comportamentos e repor por outros que sejam socialmente relevantes. 

A elaboração dessas estratégias depende de um amplo diálogo entre analista do comportamento, professores, escola e pais dos alunos para que haja a implementação efetiva desses processos. 

 

À medida que a pandemia do COVID-19 se arrasta, as famílias em todo o país estão lidando com a incerteza e as mudanças na rotina causadas pelo fechamento emergencial das escolas. Um novo estudo publicado na Frontiers in Education mostra que as paralisações nos serviços escolares tiveram sérias consequências para as crianças, principalmente aquelas com autismo.

Para comparar o impacto do fechamento de escolas em crianças autistas e não autistas, os pesquisadores enviaram uma pesquisa a 250 pais de crianças de 4 a 15 anos. A maioria dos participantes (65%) eram pais de crianças autistas, enquanto 35% eram pais de crianças sem autismo. Todos os pais preencheram um questionário sobre a experiência psicológica de seus filhos durante o COVID, e os pais de crianças autistas também preencheram uma pesquisa sobre estressores específicos do autismo, como preocupações comportamentais, interrupções na terapia e problemas de higiene.

Os resultados mostraram que os pais de crianças com autismo eram mais de três vezes mais propensos a relatar mudanças negativas em seus filhos em comparação com pais de crianças não autistas. Pais de crianças autistas foram mais propensos a relatar que seu filho foi afetado por mudanças na rotina, enquanto pais de crianças sem autismo foram mais propensos a relatar que seu filho foi afetado pelo isolamento social.

O estresse do fechamento das escolas também levou a um aumento em certos comportamentos entre crianças com autismo, incluindo:

Movimentos autoestimulatórios (66%)
“Desagregações” (62%)
Agressão (46%)
Problemas de banheiro (26%)

Mais de três quartos dos pais de crianças autistas (79%) disseram que as terapias de seus filhos foram interrompidas durante a pandemia e mais da metade (63%) disse que seu filho estava regredindo comportamentalmente. Os pais também estavam preocupados com o fato de seus filhos estarem menos preparados para retornar à escola, ficando para trás na escola e sendo deixados de fora de situações sociais virtuais.

No entanto, embora tenha havido mudanças negativas no comportamento, os pais de crianças com autismo relataram que seus filhos foram mais felizes durante a pandemia do que os pais de crianças não autistas. A diminuição das demandas sociais e a oportunidade de ficar em casa com os entes queridos podem estar contribuindo para essa diferença.

No total, esses achados sugerem que a escola virtual e os serviços de terapia podem não ser apropriados para crianças com autismo. Embora os pesquisadores ainda não entendam o impacto a longo prazo do fechamento de escolas em crianças autistas, o estudo atual mostra que as mudanças na rotina e a falta de socialização podem levar à perda de aprendizado que pode criar resultados negativos mais tarde na vida. Os educadores precisarão enfrentar esses desafios oferecendo às crianças com autismo oportunidades de “compensar” o que perderam durante o aprendizado virtual quando retornarem à escola pessoalmente.

Fonte: Autism Speaks

O desenvolvimento de atividades de lazer é importante para qualquer pessoa. Todo mundo precisa tirar um tempo para fazer algo divertido de vez em quando, até como parte da qualidade de vida de cada um.

Mas, para crianças com TEA, desenvolver interesses de lazer e novas habilidades pode ser mais difícil. É comum que elas apresentem dificuldades para aprender por observação e seus interesses são desenvolvidos de maneiras muito próprias.

Por isso, durante essas férias de verão, é muito importante que os pais dediquem algum tempo a desenvolver as habilidades de lazer.

Porque desenvolver habilidades de lazer é tão importante?

Os comportamentos difíceis que observamos em crianças geralmente podem ser reduzidos se essa pessoa estiver praticando consigam se engajar rapidamente em atividades de lazer que são satisfatórias. Da mesma forma, o tédio também costuma ser um gatilho para esses comportamentos.

Além disso, cultivar tal habilidade ajuda as crianças a encontrar e compartilhar interesses que possuem com outras pessoas, abrindo todo um leque de possibilidade de socialização em grupos e criação de novos laços afetivos de amizade.

Expor as crianças a essas experiências favorece a ampliação de novos interesses, e para isso é essencial que os pais estejam presentes, dando suporte ao apresentar essas habilidades.

Leia também: POR QUE O CONSENTIMENTO INFORMADO É ASPECTO CHAVE DA INTERVENÇÃO ABA?

Como fazer?

A primeira coisa é escolher habilidades cujos pré-requisitos a criança já desenvolveu. Não faz sentido apresentar um jogo de tabuleiro que seja necessário fazer contas (Banco Imobiliário, por exemplo) se ela ainda não domina todas as operações matemáticas, certo?

Além disso, é necessário estar atento à motivação da criança e à tolerância dela de praticar essa atividade por um determinado tempo. Expor a criança à uma brincadeira que ela não está nada empolgada para realizar ou que ela perca o interesse rapidamente, irá obviamente aborrecê-la.

O mesmo podemos dizer de insistir na atividade, quando a criança claramente está cansada. Nada poderá sair de bom nessas situações.

Planejamento

Planejar a atividade é sempre muito importante para vocês e para a criança. Indivíduos autistas, em geral, se sentem mais confortáveis em uma situação previsível. Claro, nem sempre isso é possível, mas um bom planejamento pode ajudar a evitar estresses.
Tente facilitar ao máximo a compreensão a respeito da brincadeira:

Brincadeiras ou jogos muito difíceis de entender podem limitar a capacidade de engajamento da criança. Tenha regras claras, com início e fim da atividade sejam bem definidos. Também ajuda tornar a atividade previsível e repeti-la. Ter representações visuais de lazer pode facilitar a criança e lembre-se de utilizar menos instruções verbais e dar preferências às atividades com regras estruturadas.

E os jogos eletrônicos?

Essas são atividades que trazem muito reforçamento sensorial que podem ser ótima fonte de atividades, oferecendo uma gama de recursos e podem sim ser colocados para as crianças.

A grande questão que os pais devem ficar atentos é que esses jogos e recursos eletrônicos tendem a deixar a criança hiperestimulada, algo que deve ser evitado, principalmente na hora de dormir, inclusive como estratégia de higiene do sono.

Atividades físicas podem?

Não só podem, como devem. Atividades como correr, pular, nadar… são atividades que ajudam a diminuir o estresse, aumentam a flexibilidade e o equilíbrio, além de ajudar o desenvolvimento muscular e melhorar noites de sono.

Mas e se a criança não gostar dessas atividades físicas?

Muitas crianças com TEA adoram brincadeiras que envolvam repetições como quebra cabeças, brinquedos de construir, caças palavras… Tudo isso estimula a criatividade e o raciocínio lógico e também devem ser estimulados de acordo com a habilidade da criança.

Planeje as novidades

Como falamos, as crianças com TEA podem optar por atividades que elas já conhecem. Por isso, quebras de rotinas muito abruptas podem não ser bem recebidas. Mas isso não quer dizer que você não possa oferecer coisas novas para fazer.

Tente expandir o universo da criança para outras possibilidades. Se ela gosta de videogame, tente brincar com uma caixa de lego junto com a criança. Ela prefere correr, mas vocês podem fazer um dia de cinema, com um filme e muita pipoca. Será essa apresentação, com muito planejamento e calma, que oferecerá novos horizontes de atividades.

Lembre-se: o objetivo é que, à medida que a criança cresça, ela possa ter um bom repertório de atividades de lazer, o que vai facilitar o manejo de estresse e de verões muito felizes que virão por aí.