Todo ano o site Autism Speaks faz uma compilação de estudos científicos que foram destaque para a área do Autismo e escolhe quais os dez mais importantes artigos do ano.

Com o objetivo de contribuir para a divulgação de materiais científicos de qualidade, traduzimos e trouxemos para você o resumo de cada um dos artigos escolhidos.

(Os estudos não estão organizados em ordem de importância).

Avanços na triagem, diagnóstico e intervenções no Autismo: 

1- A Multisite Randomized Controlled Trial Comparing the Effects of Intervention Intensity and Intervention Style on Outcomes for Young Children With Autism. 
2- Effectiveness of the Extension for Community Health Outcomes Model as Applied to Primary Care for Autism: A Partial Stepped-Wedge Randomized Clinical Trial. 
3- Cognitive behavioral treatments for anxiety in children with autism spectrum disorder: A randomized clinical trial.

Esses três estudos foram selecionados como exemplos de avanços na ciência de intervenção no autismo. De acordo com os membros do comitê Comnie Kasari, Ph.D., professora de psiquiatria na David Geffen School of Medicine da UCLA , e Stelios Georgiades , Ph.D., professor associado de psiquiatria e neurociências comportamentais na McMaster University.

No primeiro artigo, crianças com TEA foram incluídos num estudo que comparou dosagem (horas por semana) e ensino abordagem (Modelo Denver Early Start – ESDM). Os resultados do estudo mostraram que crianças tiveram o mesmo nível de performance independentemente da dosagem ou abordagem de ensino e que as características da criança também não predizem os resultados.

No segundo artigo, crianças em idade escolar com TEA e ansiedade foram incluídas em um estudo que testou se a adaptação da terapia cognitivo-comportamental (TCC) para enfrentar os desafios da comunicação social no TEA era melhor do que a TCC padrão (e o tratamento usual) na redução dos sintomas de ansiedade. Os resultados do estudo mostraram que a TCC adaptada para crianças com TEA levou a uma maior redução da ansiedade do que a TCC padrão (e o tratamento usual).

Já no terceiro estudo, a tecnologia de teleconferência foi usada para orientar uma ampla gama de profissionais de cuidados primários nos esforços para melhorar sua prática clínica, conhecimento e autoeficácia em relação à triagem do autismo e gerenciamento de comorbidades.

Os resultados do estudo não mostraram mudanças mensuráveis na prática clínica; a análise secundária mostrou melhora no conhecimento clínico e na confiança em cuidar de pacientes com autismo nas práticas de atenção primária.

Os resultados desses estudos oferecem aprendizados importantes que podem orientar o futuro da ciência da intervenção no autismo:
1) Os estudos que não produzem efeitos de intervenção positivos ou significativos (estudos nulos) são tão importantes quanto aqueles que o fazem;
2) Embora as intervenções educacionais que usam a tecnologia pareçam promissoras e práticas, elas não garantem a melhoria da prática clínica;
3) Uma abordagem modular cuidadosamente conduzida para modelos adaptados de intervenções existentes pode render mais informações sobre os ingredientes ativos das intervenções.

Avanços na descoberta e abordagem das disparidades de saúde:

4-  Timing of the diagnosis of autism in African American children. Pediatrics

Este estudo examinou o maior repositório conhecido de informações diagnósticas e fenotípicas em crianças afro-americanas (AA) com TEA (do Autism Genetics Resource Exchance (AGRE). Os autores descrevem um atraso inaceitável no diagnóstico de TEA e um acentuado (duplo) aumento na associação com deficiência intelectual comórbida em crianças AA em relação a crianças brancas não hispânicas.

5. Sex differences in scores on standardized measures of autism symptoms: a multisite integrative data analysis.
Este estudo reuniu a maior amostra de meninas com autismo para examinar as diferenças em como seus sintomas de autismo afetaram os resultados nos instrumentos padronizados usados para diagnosticar o autismo, não encontrando diferenças significativas com base no sexo. No entanto, os autores apontam que as pessoas que não recebem um diagnóstico de autismo são inerentemente não incluídas na análise, sugerindo que pesquisas futuras devem abordar as diferenças de sexo entre crianças ou adultos que não recebem um diagnóstico de Autismo.

6- Disparities in Service Use Among Children With Autism: A Systematic Review.
Usando dados do Autism Speaks ATN-AIR-P, os pesquisadores descobriram que grupos de minorias raciais e étnicas e famílias de baixa renda enfrentam barreiras significativas para obter os serviços necessários, cuidados intensivos, serviços especializados, serviços educacionais e serviços comunitários. Infelizmente, os autores também não encontraram estudos que examinassem a eficácia de diferentes intervenções para lidar com essas barreiras, um próximo passo crítico na redução das disparidades de saúde para pessoas com autismo.

Avanços na abordagem dos resultados para adultos com autismo    
7- Trajectories in Symptoms of Autism and Cognitive Ability in Autism From Childhood to Adult Life: Findings From a Longitudinal Epidemiological Cohort.
Neste primeiro estudo longitudinal de base populacional do autismo para examinar as trajetórias da infância à vida adulta, os autores relatam um aumento no QI médio, sem melhora nos sintomas autistas, sugestivo de desenvolvimento cognitivo contínuo durante o período adolescente / adulto inicial. Segundo os autores, esta nova descoberta fornece uma nova consideração importante para os tratamentos direcionados do autismo durante a adolescência e sugere um novo caminho de pesquisa voltado para a compreensão da plasticidade cerebral potencial, além daquela observada em indivíduos com desenvolvimento típico, na segunda década de vida.

8. Defining Positive Outcomes in More and Less Cognitively Able Autistic Adults. Autism Research 
As descobertas do estudo contribuem para o conhecimento de profissionais e famílias que ajudam a planejar a transição para a vida adulta de adolescentes com autismo. Os pesquisadores descobriram vários fatores importantes – incluindo habilidades de vida diária, menos problemas de saúde mental, demografia familiar e medidas subjetivas de felicidade – que impactam resultados positivos para pessoas autistas sem deficiência cognitiva, dando aos provedores e famílias mais orientações sobre como ajustar o planejamento de transição para cada pessoa.

Avanços na compreensão da genética e biologia do autismo    

9. Large-Scale Exome Sequencing Study Implicates Both Developmental and Functional Changes in the Neurobiology of Autism. 

Este trabalho há muito aguardado de Satterstrom, Kosmicki e Wang descreve um esforço inovador para identificar genes que são interrompidos por variantes raras em pessoas com transtorno do espectro do autismo (TEA)

Para o estudo, um grande consórcio internacional sequenciou o exoma, contendo a sequência codificadora completa de quase todos os genes, de quase 12.000 pessoas com autismo, bem como muitos de seus pais e uma população de controle. Eles identificaram 102 genes que contribuem para o risco de TEA, com 53 deles mais fortemente associados ao TEA do que ao atraso do neurodesenvolvimento.

Os 102 genes que implicados no TEA incluem genes que estão envolvidos na regulação de outros genes, bem como genes envolvidos na comunicação entre as células cerebrais.

“Isso nos dá uma noção muito mais clara de onde concentrar os esforços de pesquisa para compreender o desenvolvimento do cérebro e desenvolver tratamentos potenciais para alguns indivíduos com ASD”, disse o Dr. Veenstra-VanderWeele. “Também oferece mais evidências de que o sequenciamento do exoma deve ser considerado um teste clínico para todas as pessoas com TEA.”

10.  Genome-wide detection of tandem DNA repeats that are expanded in autism.

O artigo feito por pesquisadores do Hospital for Sick Children (SickKids) relatou novas mudanças genéticas e genes específicos ligados ao autismo em um estudo usando o banco de dados do genoma completo MSSNG da Autism Speaks.

Com uma nova abordagem de computação de dados, o Dr. Ryan Yuen, Ph.D., foi capaz de pesquisar rapidamente expansões repetidas em tandem no genoma de pessoas com autismo, descobrindo que essas mudanças provavelmente contribuíram para o desenvolvimento do autismo – e em várias novas áreas do genoma que não estavam previamente associadas ao autismo.

Expansões repetidas em tandem são seções de DNA que se duplicam uma ao lado da outra, em sequência, muitas vezes, da mesma forma que uma dobra em um pedaço de papel quando fotocopiada se transforma em múltiplas rugas. Quanto maior o número de repetições dessa ruga de DNA, maiores são as chances de a pessoa desenvolver uma doença genética.

Este tipo de análise de big data só é possível com grandes bancos de dados de informações genéticas, como as mais de 11.000 sequências do genoma inteiro de pessoas com autismo e suas famílias no banco de dados MSSNG, mas mais importante, a abordagem que o MSSNG empreendeu, sequenciamento do genoma completo – procurando em todo o DNA – foi fundamental para encontrar essas repetições em áreas não estudadas anteriormente.

Já falamos anteriormente sobre o autismo entre as meninas, mas acreditamos que precisamos voltar ao tema.

Isso porque um novo trabalho publicado na PubMed sugere que as meninas provavelmente só receberão um diagnóstico de autismo apenas se tiverem deficiências sociais significativas – corroborando a ideia de que as ferramentas de diagnóstico não são bem usadas para perceber algumas meninas com TEA.

As meninas com diagnóstico de autismo pontuaram quatro pontos a mais no SCQ (Social Communication Questionnaire, teste utilizado para identificar o autismo) em média do que os meninos com a doença, sugerindo que apenas meninas com características graves recebem o diagnóstico. Especificamente, as meninas tendem a ter mais problemas com a comunicação social, como brincar em grupos ou sorrir.

O apontamento é especificamente preocupante, pois ignora uma grande quantidade de meninas que são suavemente afetadas pelo autismo. Sem o diagnóstico correto, é mais provável que essas meninas nunca cheguem a desenvolver seus respectivos potenciais como seria através do tratamento adequado, alimentando o sofrimento causado pelo estigma dado a comportamentos que fujam do padrão socialmente aceito.

As descobertas também ressaltam a existência de diferenças de sexo na comunicação social entre crianças neurotípicas: as meninas podem precisar de melhores habilidades sociais para cumprir o padrão de comportamento “normal”.

“O estudo dá uma contribuição em termos de mostrar essas diferenças populacionais em larga escala nos marcadores do espectro do autismo”, diz Rene Jamison, professor clínico associado do Centro Médico da Universidade de Kansas em Kansas City, que não esteve envolvido no estudo. “Isso ilustra a necessidade de considerar grupos de referência específicos para cada sexo”.

As diferenças na comunicação social podem estar parcialmente relacionadas aos desafios que as meninas enfrentam quando se aproximam da adolescência, diz Marisela Huerta, professora assistente de psicologia em psiquiatria clínica na Weill Cornell Medicine em Nova York, que não esteve envolvida no estudo. “Pode chegar um ponto em que a expectativa do comportamento social das meninas em geral seja diferente do que é para os meninos”, diz Huerta.

“A interpretação que estou buscando instintivamente é que a avaliação diagnóstica real é tendenciosa contra o fenótipo do autismo feminino”, diz William Mandy, professor sênior de psicologia clínica na University College London, que não esteve envolvido no estudo. Os resultados foram publicados a 30 de março no Journal of Clinical Child and Adolescent Psychology.

A equipe de Carpenter planeja examinar as diferenças sexuais nas características do autismo entre crianças mais novas, usando várias ferramentas de rastreamento e diagnóstico.
Fonte: Spectrum News

Crianças autistas têm mais dificuldade para pegar uma bola do que crianças não autistas, possivelmente porque são menos capazes de prever sua trajetória, de acordo com um novo estudo inédito, apresentado no evento 2021 Society for Neuroscience Global Connectome.

Os resultados se alinham com a teoria de “codificação preditiva” do autismo, que propõe que uma incapacidade de prever o que vem a seguir – seja o caminho que a bola vai percorrer ou como outra pessoa pode responder a um gesto – está subjacente aos traços centrais do autismo.

Se a teoria for verdadeira, intervenções comportamentais que treinam pessoas autistas na previsão motora podem aumentar suas habilidades preditivas em ambientes sociais e outros também, disse Dagmar Sternad, professora de biologia da Northeastern University em Boston, Massachusetts, que co-liderou o trabalho.

Os pesquisadores primeiro mostraram que as crianças autistas pegam uma bola com muito menos frequência do que as crianças não autistas, independentemente da velocidade da bola. Eles então rastrearam como as mãos das crianças se moviam em direção ao objeto que entrava.

Em crianças sem autismo, a velocidade da mão diminui um pouco antes de fazer contato com a bola, disse Sabrina Bond, uma estudante de graduação no laboratório de Sternad que trabalhou no estudo. Isso sugere que eles preveem com precisão a trajetória da bola e a interceptam com um impacto suave. Em vez disso, crianças autistas aceleram em direção à bola, descobriram os pesquisadores.

“Eles não têm certeza de onde a bola vai cair antes de chegar lá, então meio que lançam as mãos em direção à bola”, disse Bond. Mais frequentemente, suas mãos colidem com a bola, o que talvez explique sua pior habilidade de pega.

A ativação muscular no tronco e nos braços das crianças mostrou o mesmo padrão: crianças neurotípicos ativam seus músculos com mais força 500 milissegundos antes de fazer contato com a bola, mas as crianças com TEA o fazem bem quando a alcançam – como se não pudessem prever quando a bola está chegando.

Por que isso é importante?

Os pesquisadores agora estão conduzindo estudos que investigam previsões em tarefas mais cotidianas e investigam se as pessoas que têm desafios com algumas tarefas relacionadas a previsões também têm desafios com outras. Eles também estão desenvolvendo uma pesquisa para permitir que as pessoas relatem suas experiências com a previsão em atividades cotidianas.

Alguns estudos mostraram diferenças consistentes em pessoas com autismo: mediram a rapidez e a eficácia com que as pessoas aprendem que um evento prediz outro ou a rapidez com que o cérebro se acostuma a um estímulo. Mas os pesquisadores também encontraram estudos em que era difícil distinguir se os efeitos eram devidos a diferenças na previsão ou diferenças nos processos que desempenham um papel na previsão, como na atenção ou em aspectos da cognição.

“Seria muito bom poder ver conexões mais claras entre a previsão na vida cotidiana e as previsões nessas tarefas muito circunscritas”, disse Jonathan Cannon, um pesquisador de pós-doutorado no laboratório de Sinha que também participou do trabalho.

Fonte: Texto traduzido de Spectrum News

Uma importante decisão pode tornar mais fácil o uso do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para o custeio de tramento do autismo. Na última quarta-feira, 20 de janeiro, o desembargador Daniel Paes Ribeiro anulou a decisão da 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) que julgava improcedente o pedido feito por uma mãe pela liberação do saldo de sua conta do Fundo para custear o tratamento de autismo do filho.

Em sua decisão, Ribeiro afirma que há jurisprudência no sentido de autorizar o levantamento de saldo de FGTS para tratamento de dependente acometido de autismo, considerando a gravidade da doença e o alto custo com o tratamento.

“No caso dos autos, os documentos juntados com a petição inicial demonstram que o filho da autora é portador de autismo e necessita de tratamento com profissionais especializados, o que, é certo, acarreta dispêndio de recursos financeiros elevados. Por isso é procedente o pedido”, escreveu no processo.

Essa não é a primeira decisão favorável das famílias de pessoas dentro do espectro do autismo. Em 2019, o juiz Luiz Henrique Horsth da Matta, do Espírito Santo, permitiu o saque de R$ 156 mil do saldo da conta do FGTS de um trabalhador, para custear o tratamento da filha que é portadora de síndrome de Down, autismo e transtorno alimentar.

Em setembro de 2020, uma decisão unânime da 2ª Turma do TRF3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) autorizou uma trabalhadora de São Paulo a levantar os valores do FGTS  e do PIS (Programa de Integração Social), ambos operados pela Caixa Econômica Federal, para custear despesas de tratamento médico de seus dois filhos menores, diagnosticados com TEA (Transtorno do Espectro Autista).

O argumento é que, como sabemos, o tratamento de qualquer doença grave, mas especificamente do autismo e suas síndromes, requerem terapias diversas, para treinamento das habilidades sociais, educação especializada, terapia cognitiva, terapia de linguagem, equoterapia, entre inúmeras outras, essenciais à uma vida digna e de qualidade, e por vezes, extremamente caras e de realização contínua.

Vale lembrar que a lei atual permite a movimentação do FGTS nos casos de doenças graves, demissão de justa causa e para usar como compra de imóveis. Entretanto, não relaciona a síndrome de Down, paralisia cerebral ou transtorno do espectro autista. Mas pode ser que este entendimento esteja mudando.

Há uma crescente esperança no uso de células tronco no tratamento do autismo, mas ainda não há evidências científicas de sua eficácia e segurança

Como sabemos, o autismo não é uma doença, portanto não há cura. Além disso, o único tratamento cuja eficácia é comprovada com evidências científicas é a intervenção comportamental através da Terapia ABA.
Contudo, nos últimos anos geneticistas, microbiologistas e pesquisadores de outras áreas têm investigado a possibilidade de criar um tratamento, ou mesmo erradicar os sintomas do autismo usando o transplante de células tronco.

A discussão a respeito do assunto surgiu ainda na década de 90, mas ganhou força a partir de 2013, em um artigo feito por pesquisadores chineses e publicado pelo Journal of Translational Medicine. Na ocasião, a combinação de transplante combinado de células mononucleares do cordão umbilical e células-tronco mesenquimais derivadas do cordão umbilical mostrou maiores efeitos terapêuticos quando combinadas.

Os pacientes submetidos a terapia celular apresentaram um avanço em relação a consciência corporal, fala e hiperatividade, 24 semanas após a infusão das células-tronco.

Desde então, vários outros estudos passaram a investigar a relação entre autismo e células tronco, impulsionados por fundações científicas financiados por laboratórios especializados no transplante de células troncos. Como consequência, a possibilidade de tratamento passou a ganhar popularidade entre pais e pessoas com autismo nos Estados Unidos, a ponto de pais pagarem até US$ 15 mil para participar de tratamentos experimentais.

E é aí que mora o perigo.

Embora o tema tenha sido foco das atenções de fundações e laboratórios especializados em pesquisas de células tronco nos últimos anos, ainda há muitas dúvidas sobre a eficácia do tratamento e inclusive sobre se ele é  de fato seguro para os pacientes.

Um ensaio clínico de 2018 no Sutter Institute of Medical Research em Sacramento, Califórnia, encontrou “evidências mínimas de eficácia clínica” de infusões de sangue do cordão umbilical aplicada em 29 crianças autistas.

O registro de ensaios clínicos do National Institutes of Health lista 11 outros ensaios com células-tronco relacionadas ao autismo – mas 3 foram concluídos anos atrás sem registrar nenhum resultado, 3 estão listados com um status ‘desconhecido’ e 2 foram retirados.

A maioria dos estudos foram executados fora dos EUA — o que dificulta o acompanhamento preciso e a checagem da informação pelo órgão americano — e nenhum randomizou os participantes para receber a terapia ou o placebo, que é considerada a abordagem padrão ouro em ensaios clínicos.

O ceticismo dos pesquisadores pode ser exemplificado pelo estudo “Cell therapy approaches to autism: a review of clinical trial data”, do neurocientista Jack Price, da universidade britânica King’s College London.

Uma vez que todos os estudos afirmam mostrar que sua metodologia é segura, outros estudos não controlados parecem difíceis de justificar. O objetivo dos ensaios de fase I / II com rótulo aberto é demonstrar segurança. Se isso for alcançado, estudos adicionais serão redundantes e, portanto, antiéticos. Claramente, a única maneira de sabermos se as terapias celulares podem ter um impacto no TEA é por meio de estudos adequadamente controlados por placebo. Isso é contestado por alguns, mas continua sendo a posição majoritária entre os reguladores e os próprios cientistas clínicos [34]. Aproximadamente 90% dos medicamentos falham em ensaios clínicos e a maioria falha por razões de eficácia ou segurança [35]. Os dados sobre terapias avançadas são atualmente muito escassos para serem analisados de forma robusta, mas a natureza experimental dessas terapias significa que sua taxa de sucesso provavelmente não será maior. Isso significa que a grande maioria dos pacientes que participam de estudos como os considerados aqui está recebendo tratamentos inseguros, ineficazes ou ambos. Os pais e os médicos fariam bem em lembrar que esses pacientes, em sua maioria, são crianças, incapazes de dar consentimento. Em muitos casos, a qualidade de vida futura é muito difícil de avaliar. Quão legítimo é expor esses indivíduos a riscos com uma probabilidade de sucesso tão baixa?

O que a Casulo pensa
Nós, da Casulo Comportamento e Saúde, somos entusiastas da ciência e acreditamos que apenas tratamentos baseados em evidências científicas devem ser usados para os casos de autismo.
É claro, ficamos esperançosos por novas possibilidades e informações que possam nos ajudar a entender o espectro e a melhorar a qualidade de vida das pessoas com TEA.

Entretanto, sublinhamos a necessidade de que toda descoberta científica precisa passar por vários critérios. No momento, ainda não há provas que garantam o uso das células troncos para reduzir características ou mesmo reverter quadros de autismo.

Por isso sugerimos muita cautela a esse e outros tratamentos experimentais que não tenham passado pelos testes necessários ou que ainda não possuam informações a respeito.

Outras fontes:

https://translational-medicine.biomedcentral.com/articles/10.1186/1479-5876-5-30

https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2021/01/10/celulas-tronco-auxiliam-no-tratamento-de-autismo-mostra-estudo.htm

https://translational-medicine.biomedcentral.com/articles/10.1186/1479-5876-5-30#article-info

https://molecularautism.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13229-020-00348-z

https://translational-medicine.biomedcentral.com/articles/10.1186/1479-5876-11-196

https://www.neurogen.in/assets/frontend/pdf/scientific-publications/Autism/15-Autism.pdf

Muitas crianças com autismo apresentam dificuldades nas habilidades de compreensão de leitura durante os anos escolares, mesmo que não possuam deficiências intelectuais. Para entender mais especificamente por que essas crianças com TEA ficam atrás de seus colegas neurotípicos nessa área, um novo estudo publicado em novembro apontou duas habilidades específicas iniciais e pré-leitura como bases fundamentais para o desenvolvimento da compreensão de leitura posteriores.

No desenvolvimento da linguagem, as habilidades narrativas são fundamentais para desenvolver uma pré-leitura eficaz, como recontar os eventos de uma história em ordem e entender como as partes de uma narrativa funcionam juntas. As habilidades de inferência se desenvolvem no início da leitura e incluem a capacidade de vincular as ideias em duas frases.

Segundo o estudo, os desafios com essas duas habilidades iniciais foram fortemente associados aos desafios de compreensão de leitura à medida que envelheciam.

“Este estudo exclusivo se propõe a compreender as habilidades específicas que podem ser apoiadas desde a infância, para ajudá-las a ter uma leitura bem-sucedida à medida que progridem na escola e na idade adulta”, disse Thomas W. Frazier, Ph.D., chefe de ciências oficial da Autism Speaks.

Para medir as habilidades específicas que apoiam a compreensão da leitura, 81 crianças com idades entre 8 e 16 anos, com diferentes níveis de necessidades de apoio, leram histórias e responderam a perguntas sobre elas, incluindo fazer resumos e recontar o que leram.

Os pesquisadores também compararam essas habilidades com o vocabulário das crianças, ou compreensão do significado das palavras usando padrões apropriados para a idade. Independentemente da idade da criança, sintomas de autismo mais significativos e habilidades de vocabulário mais baixas foram associados a mais desafios para a construção das narrativas. Em contraste, habilidades de vocabulário e idade, mas não os sintomas de autismo, foram associadas a desafios com habilidades de inferência.

Crianças cujas habilidades de recontagem narrativa e inferência pontuaram mais alto no ensino fundamental continuaram a apresentar crescimento ao longo dos 2,5 anos de estudo. Os pesquisadores concluíram que trabalhar essas habilidades específicas de compreensão de leitura no ensino fundamental é essencial para apoiar a compreensão de materiais mais complexos à medida que envelhecem.

Os pesquisadores sugerem que estudos futuros examinem faixas etárias mais específicas para determinar períodos críticos e estratégias de intervenção específicas para alunos do ensino fundamental, médio e médio.

Segundo dr. Frazier, a compreensão da leitura como uma área específica de desenvolvimento pode ser crucial para personalizar a forma como é ensinada a linguagem e as habilidades de leitura para crianças com esses desafios, para que tenham o maior sucesso possível.

Fonte: https://www.autismspeaks.org/science-news/study-links-reading-comprehension-challenges-autistic-children-specific-early-and-pre

Para esse assunto, é importante ser direto e bem claro. Não existe vacina que cause autismo. 

Embora isso já seja claro para toda a comunidade científica, infelizmente a mentira envolvendo a correlação entre a vacina Tríplice Viral dada na primeira infância e o desenvolvimento do autismo volta e meia é usada como argumento para grupos antivacina.

A irresponsabilidade de quem dissemina essas informações é extremamente preocupante. Não só pelo aspecto óbvio de colocar em risco as vidas das crianças — além de toda a comunidade ao redor, que corre o risco de se tornar suscetível às doenças que poderiam ser (ou até já foram) extintas — mas também porque abre a porta para uma nova onda de desinformação e preconceitos envolvendo o autismo.

Mas de onde surgiu essa desinformação? Qual a origem desse boato?

Bem, precisamos voltar à 1998, quando o então gastroenterologista Andrew Wakefield e seus colegas de estudo levantaram a possibilidade de um “vínculo causal” desses problemas com a vacina MMR, que protege contra sarampo, rubéola e caxumba e que havia sido aplicada em 11 das crianças estudadas. O resultado da pesquisa preliminar foi publicada na conceituada revista Lancet.

A hipótese levantada por Wakefield era de que as vacinas poderiam causar problemas gastrointestinais, os quais levariam a uma inflamação no cérebro – e talvez ao autismo.

Institutos de saúde de toda a Europa se debruçaram sobre a pesquisa de Wakefield, com o objetivo de tentar encontrar essa relação, resultando em dezenas de publicações científicas sobre o tema, uma vez que o descobrimento disso poderia mudar completamente a forma de combate à essas doenças. Entretanto, nenhum indício foi encontrado. 

Em 2004, a mentira do ex-médico começou a ser descoberta. Uma série de reportagens, revelou que Wakefield havia constantemente fraudado os dados dos testes para tentar provar que a vacina MMR estava ligada ao surgimento de sintomas do autismo. 

Por trás das fraudes nas pesquisas estava o próprio interesse. Em 1998, Wakefield havia feito um pedido de patente para uma vacina contra o sarampo que concorreria com a MMR. A manipulação dos dados e o falso alarme fazia parte de uma estratégia de difamação da vacina concorrente, para abrir espaço para a venda do seu próprio método de imunização

A mentira do charlatão ficou ainda mais evidente depois que o médico que auxiliou veio a público confirmar que era mentira a alegação de Wakefield de que teriam sido encontrados vestígios do vírus do sarampo nas 12 crianças pesquisadas. Segundo o médico, o vírus não havia sido encontrado em nenhuma delas – e que Wakefield ignorou essa informação para não prejudicar o estudo.

Em 2010, a Revista Lancet revogou o estudo, pouco depois que o conselho médico do Reino Unido cassou a licença do ex-médico. O conselho afirmou que o médico atuou de maneira “desonesta, enganosa e irresponsável”.

Infelizmente, o estrago estava mais do que feito. Grupos anti-vacina, anti-ciência e conspiracionistas de toda sorte já haviam se organizado ao redor da teoria fraudulenta de Wakefield. Este último, por sua vez, fez questão de fomentar a própria mentira, participando ativamente de protestos e escrevendo livros auto-elogiosos sobre sua pesquisa falsa.

Em 2014 uma meta-análise de dez estudos envolvendo mais de 1,2 milhão de crianças reafirmou que as vacinas não causam autismo. No mínimo, a imunização foi associada à diminuição do risco de crianças desenvolverem autismo, uma possibilidade que é mais forte com a vacina contra sarampo-caxumba-rubéola.

Em 2019, um estudo de escala inédita realizado pelo Instituto Serum Statens e publicado na edição de março de 2019 da revista Annals of Internal Medicine reforçou que a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) não aumenta a probabilidade de desenvolvimento de transtornos do espectro do autismo (TEA). Colaboraram com o trabalho as universidades de Copenhagen, na Dinamarca, e Stanford, nos Estados Unidos.

Na Casulo Comportamento e Saúde levamos a ciência muito a sério. Tanto, que trabalhamos apenas com evidências científicas.

Diga não ao charlatanismo e às Fake News. E lembre-se de vacinar-se e vacinar sua criança, seguindo as recomendações de agências nacionais e internacionais de controle epidemiológicos.

Não é novidade para ninguém que 2020 foi um ano complicado. Para além da tristeza por todas as vidas perdidas devido à pandemia, o cenário de incertezas também nos trouxe muita preocupação e insegurança. Como muitos de vocês, a Casulo Comportamento e Saúde teve que reconsiderar alguns dos planos para 2020.

Entretanto, mesmo em um ano tão triste e atípico, também tivemos algumas boas notícias na Casulo.
Se o “novo normal” impediu que realizássemos eventos e palestras presenciais, as plataformas online nos permitiram realizá-las e difundir nossos conteúdos em prol das melhores práticas envolvendo o tratamento do autismo, sempre com base em evidências científicas.

Foi o caso I CONGRESSO CAPIXABA ABENEPI: A criança difícil e os diferentes modelos de família no Século XXI, no qual a Casulo Comportamento e Saúde participou por meio de sua diretora clínica Mylena Lima, presidente da comissão científica do evento. O evento reuniu profissionais de várias áreas, com o interesse comum de discutir o comportamento infantil.

Além disso, nossa diretora participou do XVIII Seminário Internacional do Instituto LAHMIEI Autismo, fazendo parte da mesa redonda “Análise do Comportamento Aplicada: A Experiência de Diferentes serviços no tratamento do Autismo”, no qual foi compartilhada toda a experiência da Casulo nesses últimos três anos oferecendo Terapia ABA.

Institucional

Aliás, em 2020 a diretora clínica Mylena Lima foi eleita para o mandato de dois anos no conselho fiscal da Associação Brasileira da Análise do Comportamento (ACBr).

Cursos

Em 2020, iniciamos a oferta do curso online Treino de Pais: ABC da Parentalidade Positiva, um curso introdutório voltado para pais que não tiveram contato com estratégias da Análise do Comportamento Aplicada anteriormente e servirá para ensinar habilidades cruciais para que pais aprendam estratégias eficientes para promoverem a cooperação infantil.

Os cursos online também serviram para capacitar ainda mais nossos colaboradores. Pensando nisso criamos cursos EAD para treinamento interno.

Aproveitamos para tratar da implementação da plataforma de coleta e análise de dados, Central Reach, ferramenta importada dos EUA e considerada a melhor para o serviço.

Conquistamos a aprovação como provedor dos cursos preparatórios para cetificações QABA – QASPs e ABAT, o que permite à Casulo oferecer cursos que permitirão que os colaboradores se preparem e se inscrevam nas provas necessárias para obtenção das certificações internacionais envolvendo a Terapia ABA. Essa é uma grande conquista para a Casulo e para as famílias de nossos clientes, uma vez que permitirá a qualificação ainda maior dos nossos colaboradores.

Novas Unidades

Desde o início da Casulo, sempre tivemos como meta levar nossos serviços ao máximo de famílias possível. Sabemos que há muitas crianças com TEA sem o atendimento adequado e o quanto podemos fazer a diferença.

Em 2020, ficamos orgulhosos por termos conseguido aumentar um pouco mais o alcance do nosso atendimento. Abrimos mais um três novas unidades: em Aracruz, São Mateus e em Teixeira de Freitas, na Bahia. As novas clínicas oferecem o mesmo serviço de qualidade da Casulo e contará com profissionais capacitados, treinados e supervisionados.

Além disso, a Casulo Comportamento e Saúde agora é parceira da Clínica Em.Si, sediada em Cachoeiro (ES). Idealizada pela neuropsicóloga Daniele Garioli a Clínica Em.Si é um centro de excelência de avaliação e intervenção, cujo objetivo central é auxiliar o progresso do desenvolvimento infantil através de um tratamento interdisciplinar com um equipe especialista em intervenção precoce.

Novos membros da equipe Casulo

As nossas novas unidades permitiram a chegada de novos membros em nossa equipe. Este ano ficamos muito felizes em dar nossas boas-vindas a novos colaboradores.

Carlos Almeida é psicólogo, especialista em análise do comportamento aplicada pela Universidade de São Paulo e pela Universidade Federal de São Carlos, novo consultor da Casulo em Teixeira de Freitas

Luciano Carneiro é psicólogo há quase 10 anos e mestre em Análise do Comportamento. Tem especialização em Análise do Comportamento Aplicada e experiência no atendimento de crianças com TEA. Ele vai atuar supervisionando e acompanhando os atendimentos na clínica de Linha, Aracruz,  Cachoeiro e Santa Tereza.

Um estudo publicado pela revista Autism and Developmental Language Impairments aponta para o treinamento dos pais, além de ajudar a apoiar o desenvolvimento de seus filhos, reduz os níveis de estresse relatados por pais de crianças com autismo do que pais de crianças com atrasos de linguagem.

No estudo publicado na revista, pais de crianças de 2 a 6 anos de idade fizeram uma pesquisa sobre seus níveis de estresse. A pesquisa incluiu um perfil de seus filhos com detalhes sobre os comportamentos e necessidades sensoriais deles.

“Este estudo fornece suporte crucial para o envolvimento dos pais em intervenções de toda a família para crianças com transtorno do espectro do autismo”, disse Thomas W. Frazier, Ph.D., diretor de ciências da Autism Speaks. “Os pais precisam de ajuda para responder melhor aos desafios comportamentais de seus filhos de uma forma que apoie o aprendizado de habilidades de regulação emocional e trate do bem-estar da criança e da família.”

Os pesquisadores compararam as respostas de dois grupos: aqueles cujos filhos foram diagnosticados com autismo e pais de crianças com deficiência específica de linguagem.

Os pais com uma criança que foi diagnosticada com TEA relataram se sentir significativamente mais estressados devido às dificuldades de seus filhos com uma série de desafios de funções executivas. Isso inclui impulsividade, foco, respostas a estímulos sensoriais e controle emocional.
O estresse dos pais foi relacionado às suas habilidades de responder a comportamentos difíceis relatados na pesquisa, como agressão e controle emocional deficiente. Esses pais também relataram sentir falta de controle.
Com base em pesquisas anteriores que descobriram que o treinamento dos pais em como responder durante os tratamentos baseados em brincadeiras melhorou a aprendizagem das crianças, os pesquisadores do estudo de estresse dos pais concluíram que o envolvimento dos pais no tratamento poderia ter benefícios adicionais.
“Os pais e cuidadores de crianças com autismo e desafios relacionados são membros essenciais da equipe de atendimento”, disse o Dr. Frazier. “Pesquisas futuras devem continuar a explorar tratamentos que envolvam pais ou cuidadores no processo para garantir que seus entes queridos autistas recebam o suporte exclusivo de que precisam e melhorem o bem-estar de toda a família.”

Veja o texto original e completo em Autism Speaks.

São poucas as publicações que tocam em como é ser pai ou mãe de  uma criança com autismo, sejam os medos, as angústias, as alegrias com as pequenas conquistas diárias… É raro ver essas questões serem retratadas fora de um espaço comum com outros familiares na mesma situação.

Pois é esse o tema de Fala, Maria (editora Skript), do mexicano Bernardo Fernández, o Bef. A HQ mostra o processo de aprendizagem do autor, da negação à aceitação  à compreensão, nem sempre eficiente, de como funciona o mundo de sua primogênita, diagnosticada com o transtorno do espectro autista aos dois anos de idade.

Com traços leves mas marcantes, cheio de espaço para a imaginação e a elocubração, Bef abre a porta de sua intimidade. Não se furta de abordar questões delicadas, como o divórcio, mas também espalha pelas páginas um olhar poético e, por que não?, otimista.

Com sua sinceridade e sua mão estendida para a inclusão, Bef também insere Fala, Maria em uma outra família: a dos quadrinhos que buscam gerar empatia, combater preconceitos e incentivar a inclusão.

Confira o texto completo feito e a entrevista com o autor sobre a obra feitos pela Zero Hora.