Primeiras palavras atrasadas e irregularidades na fala são alguns dos sintomas mais comuns do diagnóstico do transtorno do espectro do autismo (TEA). Por isso, é normal que pais suspeitem que a criança tenha autismo quando ela fala apenas com parentes próximos e amigos, mas não com a escola ou com outros parentes.
Quando uma criança se descobre incapaz de falar com certas pessoas, isso é chamado de “mutismo seletivo”. Mas o que causa o mutismo seletivo? Está sempre vinculado ao TEA? Vamos mergulhar nessas questões.
O que é mutismo seletivo?
Algumas pessoas têm mutismo total, o que significa que não podem se comunicar verbalmente. Isso geralmente é devido a alguma forma de lesão cerebral ou distúrbio grave da fala. Mutismo seletivo significa que a falta de fala ocorre apenas em algumas situações. Como mencionado acima, muitas crianças com essa condição podem conversar com os pais e outros membros da família.
Elas também podem se comunicar com amigos próximos e colegas de classe selecionados. Mas com qualquer outra pessoa, possuem dificuldades de falar, não necessariamente sem vontade. Algumas crianças com mutismo seletivo podem responder com métodos não-verbais, como gestos com as mãos, enquanto outras nem mesmo respondem.
O mutismo seletivo é um distúrbio reconhecido no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ( DSM-5 ). Ele especifica que os seguintes requisitos devem ser atendidos para um diagnóstico de mutismo seletivo:
- A falta de fala não está ligada à falta de fluência no idioma
- A condição dura pelo menos um mês
- Este mês não deve ser o primeiro mês de aula, pois pode ser normal que os alunos sejam tímidos
- Isso interfere no sucesso acadêmico, ocupacional e / ou social da pessoa
- Não pode ser melhor explicado por um distúrbio de comunicação ou fluência
- Não ocorre exclusivamente por causa da esquizofrenia, autismo ou outros distúrbios (mais sobre isso mais tarde)
Os pais geralmente notam o início dos sintomas por volta dos três a quatro anos de idade, quando as crianças entram na pré-escola. Estima-se que 0,2% a 0,8% das crianças possuam mutismo seletivo e que mais meninas são diagnosticadas do que meninos. O distúrbio é mais comum em crianças, mas pode durar até a idade adulta.
Você pode ter mutismo seletivo e autismo?
A resposta curta é … é complicado. O DSM-5 estabelece uma fronteira entre os dois distúrbios, mas isso tem causado alguma confusão na comunidade clínica.
Steffenburg et al. (2018) estudaram a prevalência potencial de autismo em crianças com mutismo seletivo. No estudo, foram selecionados 97 participantes entre quatro e 18 anos com diagnóstico confirmado de mutismo seletivo. Nenhum deles havia sido diagnosticado com TEA, mas após uma triagem de autismo durante o estudo, os pesquisadores concluíram que 63% preenchiam os critérios diagnósticos para TEA.
Steffenburg et al. (2018) acreditam que os sinais de autismo podem passar despercebidos porque a falta de comunicação verbal passa a ser o foco principal dos pais e médicos. O artigo sugere que TEA e mutismo seletivo podem não ser mutuamente exclusivos, afinal, e que os profissionais devem procurar sintomas de ambos.
Também é importante notar que cerca de 40% das pessoas autistas têm transtornos de ansiedade comórbidos. Visto que a comunicação social costuma ser um desafio para crianças com TEA, a ansiedade social é particularmente comum. Isso fortalece ainda mais a relação potencial entre TEA e mutismo seletivo.
No entanto, Steffenburg et al (2018) notaram uma motivação diferente em seus participantes com TEA e mutismo seletivo. Embora a maioria das crianças com mutismo seletivo seja relacionada ao medo em um ambiente de grupo, os pesquisadores observaram que a falta de fala nessas crianças estava mais enraizada na teimosia e na falta de interesse social.
Mutismo seletivo e suas relações com o transtorno de ansiedade social e o transtorno do espectro do autismo, de Peter Muris e Thomas H. Ollendick, também enfatizou que a ansiedade não é o único fator possível para crianças com TEA. Eles também podem exibir mutismo seletivo porque não “entendem adequadamente situações sociais específicas ou têm dificuldades para ler as expressões faciais de outras pessoas, não sabem como responder às outra pessoas e/ou são menos interessado em se envolver na interação social”.
Muris e Ollendick concordam com Steffenburg que a ligação entre mutismo seletivo, transtornos de ansiedade e TEA precisa de mais atenção. Eles continuam dizendo “não vemos razão para que o TEA seja listado como um critério de exclusão para um transtorno de ansiedade – [mutismo seletivo] SM – embora seja permitido como uma condição comórbida para outros transtornos de ansiedade, incluindo [transtorno de ansiedade social] SAD.”
Meu filho ou filha tem mutismo ou autismo?
Como vimos, é possível que as crianças apresentem sinais de ambas as condições. Se seu filho tem TEA, o mutismo seletivo não será o único sintoma. Fique de olho em outras características, como:
- Comportamentos auto estimulantes
- Falta de contato visual
- Sensibilidades sensoriais
- Insistência nas rotinas
- Possíveis colapsos ou desligamentos
- Atrasos de fala e linguagem
Confira nosso artigo Principais sinais do autismo para obter mais informações sobre como detectar TEA em crianças pequenas.
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